A mente que mente é regador de ilusões não faz proliferar jardim...

Amigos que agente faz por ai...

sexta-feira, setembro 30, 2011

Para acalmar meu coração inquieto...



POEMA EM LINHA RETA



Nunca conheci quem tivesse levado porrada.

Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.
E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo,
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo.

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó príncipes, meus irmãos,

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo?

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra?

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos - mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.




Fernando Pessoa(Álvaro de Campos)

PROFISSÃO : PROFESSOR





Professor Freitas diz que foi atingido por cassetete;
Batalhão de Choque afirma que ele foi acertado por
objetos arremessados pelos próprios manifestantes.
(Foto: Alex Costa/Agência Diário)


Em greve desde 5 de agosto, os professores da rede estadual do Ceará foram duramente reprimidos num protesto ontem (29) na Assembléia Legislativa do estado. O governador Cid Gomes, que tem adotado uma postura intransigente diante das reivindicações da categoria, acionou a Batalhão de Choque contra os grevistas. Vários docentes ficaram feridos, ensangüentados.

Repúdio à violência e apoio aos professores

A violência da polícia gerou imediata reação dos movimentos sociais e de lideranças políticas do estado. O deputado Chico Lopes (PCdoB/CE) emitiu uma nota. “Qualquer violência, parta de onde partir, contra trabalhadores em greve, deve ser repudiada... Os excessos cometidos hoje precisam ser apurados, com penalização dos responsáveis. Nenhum trabalhador em greve pode ficar sujeito a agressões”, ressalta o parlamentar, que também é professor e integrante do sindicato da categoria – Apeoc.

Segundo relatos da entidade, a greve dos professores da rede estadual continua com expressiva adesão. Ela registra maior força em Fortaleza. Segundo a própria Secretaria da Educação do Estado, de 174 escolas da capital, 67 estão totalmente paralisadas e 43 estão afetadas parcialmente. Já no interior do estado, a paralisação atinge várias cidades e cerca de 400 escolas.


Por Altamiro Borges  de : OLHOS DO SERTÃO.


quinta-feira, setembro 29, 2011

Três etapas para uma boa reunião de pais

Todo educador sabe que é um desafio conduzir uma reunião de pais proveitosa. Afinal, os familiares chegam a esse tipo de encontro com muita expectativa para saber sobre os filhos, o que pode resultar em discussões a respeito de problemas individuais e afastar o debate da pauta organizada. Para evitar armadilhas como essa, é preciso começar a preparação bem antes da data prevista para a realização do encontro. 

Se bem planejadas, as reuniões de pais ajudam a estabelecer um diálogo produtivo com as famílias e levantar informações que podem ser úteis na organização da rotina na creche. Essa troca de ideias também faz bem aos familiares, pois eles conseguem entender como as propostas de trabalho desenvolvem as habilidades de seu bebê e ampliam as experiências deles. "Quando os responsáveis pela Educação da criança em casa e na escola conversam, têm mais elementos para entendê-la e apoiá-la", diz Janaina Maudonnet, professora da especialização em Educação Infantil da Faculdade Sumaré, em São Paulo. Para que as reuniões deem certo, elas devem contemplar três etapas, apresentadas a seguir. 


Preparação

A organização do encontro deve ser feita em parceria com a coordenação pedagógica (leia o plano de trabalho). Ele deve ter objetivos claros e seguir uma programação predeterminada. Reuniões extensas e com pautas confusas afastam os pais da escola. "Assim como os educadores reclamam de encontros de formação que não levam a lugar nenhum, os pais sentem que perderam tempo quando não conseguem aproveitar as reuniões", diz Elizabete Godoy, formadora do Centro Brasileiro de Filosofia para Crianças, em São Paulo. O repasse de informes, por exemplo, pode ser feito por escrito. É preciso definir, com bastante antecedência, a data das reunião e a forma de divulgá-la. O aviso pode ser feito por meio de indicações no calendário entregue no início do ano, de cartazes, bilhetes na agenda, e-mails, telefonemas e pessoalmente. Quanto mais canais de comunicação forem estabelecidos, melhor. Também é importante pensar em soluções para quem não tem com quem deixar as crianças. Uma saída é organizar um espaço onde elas possam ser recebidas durante o encontro - um funcionário deve ser destacado para cuidar delas. A participação de outros parentes próximos ao pequeno deve ser estimulada quando a presença dos pais não é possível. "É fundamental que a pessoa conviva cotidianamente com o bebê e o conheça, o que permite a ela fazer intervenções durante a reunião", explica Maria Letícia Nascimento, professora da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (USP). Outra providência é escolher um horário que não seja proibitivo para os responsáveis. O ideal é reservar o período da noite ou os sábados.

Encaminhamento

Colocar-se na posição de especialista que tudo sabe não surte efeito. "Os pais também têm muito a contribuir. É preciso prever um espaço para a troca de ideias. O direito à voz enriquece esse tipo de encontro", defende Janaina. A fala deles deve ser valorizada, mas precisa estar prevista dentro de uma programação de atividades para que os objetivos gerais não se percam. Durante o encontro, sempre que possível, faça observações sobre o que os familiares disserem, intervindo de modo a levar questões apresentadas por eles do campo particular para o geral. "Passamos orientações que valem para todas as crianças. Por fim, atendo os pais interessados em conversas individuais", explica Tereza Cristina Bonfim Alves, educadora do CEINF Adriana Nogueira Borges, em Campo Grande.

Ela, que conhece bem os pequenos, é responsável por conduzir as reuniões: mostra os portfólios e explica as etapas do desenvolvimento infantil, associando-as às atividades desenvolvidas. De acordo com Janaina, é interessante mostrar os resultados de alguma proposta, justificando a importância do tema e refletindo com os pais sobre o tipo de aprendizado que ele trouxe à criança. Nesse momento, convém estimular a participação deles, uma vez que podem contar como a aprendizagem de determinados conteúdos repercutiu em casa. Outra possibilidade é mostrar fotos e vídeos simples, feitos com base em imagens captadas no dia a dia em sala. "Mesmo que os pais estejam interessados apenas em seus filhos, é muito importante que conheçam a dinâmica do grupo, as relações interpessoais e a maneira como todos olham e compreendem as atividades propostas", complementa Maria Letícia. No CEINF Jardim Rodolfo Pirani, em São Paulo, a educadora Denise Beraldo fez um painel de fotos e um vídeo das crianças no período de acolhimento, no início do ano letivo, para usar na reunião. "O objetivo era mostrar a rotina da creche e as interações entre os pequenos", explica. O encontro foi acompanhado pela coordenadora pedagógica, que esclareceu dúvidas gerais sobre a escola, fez fotos do evento e tomou notas dos temas discutidos para debater com a equipe de educadores posteriormente.

Avaliação

Para aprimorar continuamente os encontros com familiares, uma boa ideia é analisar as impressões dos presentes sobre o evento. Isso pode ser feito por meio de um questionário, preenchido ao fim da reunião. Com base nele, será possível avaliar o evento e discutir seus desdobramentos, levantando, por exemplo, temas para os próximos. "Uma conversa com a coordenação também pode ajudar a definir os passos seguintes", diz Cisele Ortiz, formadora do Instituto Avisa Lá, em São Paulo. A socialização dos resultados também deve ser valorizada. Divulgar fotos e depoimentos dos pais durante a reunião em murais na escola ou em sala pode ser uma boa estratégia, bem como compartilhá-los com as crianças. Vale ainda encerrar o trabalho com o envio de um resumo do encontro para quem não pode comparecer e também a apresentá-lo à equipe escolar.

revistaescola.abril.com.br
Manual de Educação Infantil - De 0 a 3 Anos: Uma Abordagem Reflexiva, Anna Bondioli e Susanna Mantovani, 356 págs., Ed. Artmed, tel. 0800-7033444.